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Lições do Passado
Com o espalhar da pandemia de COVID-19 e o confinamento obrigatório e necessário, estamos a fazer a nossa parte para combater o vírus e, temos de o dizer, sobreviver. A paragem quase total de muitos sectores do mercado, nomeadamente a restauração e a hotelaria, com grande percentagem de empregados em regime de lay-off e muito comércio fechado, torna difícil não pensar nas dificuldades económicas que o futuro trará. Como os mercados estão a reagir pior do que na crise de 2008 e os media a falar numa crise próxima da que a Europa sentiu no Pós-Guerra é normal estarmos preocupados.
Isto leva-nos a refletir um pouco em outras grandes pandemias, pois existem imensos exemplos de grandes epidemias e pandemias ao longo dos milénios da nossa História, como a Peste Antonina; a Praga Justiniana; a Peste Negra; a Cólera; a Varíola e a gripe, nas suas várias formas.
No entanto, uma doença tem estado em foco nos tempos recentes e está associada aos termos “vírus” e “gripe”: a Gripe Espanhola. Vamos falar um pouco das lições que podemos aprender com o combate à doença e o que podemos retirar dos erros que foram cometidos após a dissipação da mesma. Usamos o exemplo da Gripe Espanhola porque é o vírus mais semelhante ao que está a provocar a pandemia que atualmente nos afeta. Para além disso, a ideia é fazer uma reflexão, não dar uma aula de História Económica e Social.
O século XX assistiu assim à maior pandemia da História Contemporânea: a Gripe Espanhola. Foi assim chamada por ter sido a comunicação social deste país a reportar pela primeira vez os casos desta doença. Dados conservadores estimam que terão morrido cerca de 20 milhões de pessoas, mas acredita-se que as fatalidades podem ter chegado aos 50 milhões em todo o Mundo, entre 1918 e 1919. Para se ter uma ideia da enormidade deste número, em toda a Primeira Grande Guerra morreram 9 milhões.
Os perigos de contágio foram exacerbados pelas péssimas condições higiénicas, em particular na Europa, devido a quatro anos de guerra intensa, pelo regresso dos soldados às suas casas, transportando com eles o vírus, e pela falta de informação – vivia-se um período de pós-guerra, em que a censura, a preocupação com a manutenção de paz e a recuperação da Guerra, eram as prioridades dos governos. No entanto, alguns países colocaram contingências em ação, tais como o completo lockdown e cerco de certas cidades, como Porto, Philadelphia e Nova Iorque. Em Itália, um pouco como com a atual situação com a Covid-19, foram fechados negócios; cancelados eventos desportivos e proibidos ajuntamentos diversos, como forma de tentar conter a propagação da doença. Esta foi a primeira consequência da pandemia, as populações, já fracas e incertas do futuro graças a anos de guerra, entraram em pânico e perderam a confiança, que trouxe, obviamente, consequências económicas. Estas consequências acabaram por resultar, aliadas a outros factores, eventualmente, na queda das bolsas e na Grande Depressão Mundial de 1929.
De modo a evitar que isto volte a acontecer, podemos aprender com os erros do passado. Após a contenção do vírus e garantir a segurança de todos, algo que os governos já estão a assegurar, é necessário estar preparado para as consequências humanas e económicas que virão a seguir. O facto de os governos terem decidido ordenar isolamentos e essencialmente parar tudo na maioria dos países do Mundo vai levar a uma recessão. A perda de emprego e encerramento de negócios vai certamente acontecer. Com a Gripe Espanhola, infelizmente poucas medidas foram tomadas para travar a recessão. É necessário tomar medidas para evitar um colapso financeiro ainda maior. O governo português já instaurou medidas, como as ajudas a empresas na colocação dos seus empregados em regime de lay-off, em vez de serem forçados a despedimentos massivos, e no auxílio em termos de rendas, tanto para o senhorio como para o inquilino.
Assim, como tem sido prática, os governos têm tentado proteger todos os lados do espectro económico-social, desde os trabalhadores e empregados, até diretores e patrões. Neste momento não pode haver exclusões nem discriminações. Será com decisões acertadas e o trabalho de todos que se lutará contra a inevitável recessão. Vimos que somente conter a propagação, evitar o contágio de mais pessoas, mesmo que obviamente essencial, sem garantir o futuro, não é o caminho. A Gripe Espanhola mostrou-nos isso.
Da mesma forma que fomos orientados para parar e nos isolarmos em casa, precisamos de novas orientações para saber como regressar aos mercados. Há cerca de um mês e meio foi urgente conter e proteger as populações, agora é vital que saibamos voltar ao ativo de modo a trabalhar para recuperar e retornar a uma situação de estabilidade económica e financeira, com vista ao crescimento. Precisamos de unir os apoios do Estado à responsabilidade e à criatividade do mercado empresarial. Sem esta união, estamos condenados a repetir os erros do passado.